TRAVELLING DE DANEY: janeiro 2010

AVATAR, James Cameron

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AVATAR, James Cameron


Eu consigo te ver.

Em 1927, Fritz Lang lançava "Metrópolis". O filme foi por muito tempo o mais caro da história - com reajuste de valores certamente figura entre os mais caros - e representante do expressionismo alemão. Simplesmente muito a frente do seu tempo, o diretor conta sobre o futuro da humanidade, dividida entre os ricos, que moram na superfície, e os operários, que vivem trabalhando no subsolo. Hoje vemos que todos os gastos com esse grandioso filme - em todos os aspectos, pois o original tinha cerca de 5 horas de duração - foram justificados. Não pela arrecadação, pois essa foi uma tragédia e quase faliu a produtora, mas pelo valor cultural que ele representou.

83 anos depois, nos deparamos com outra super produção. Avatar, último filme de James Cameron, já entrou para a história do cinema com os títulos de filme mais caro e que mais arrecadou. Cameron, que bateu seu próprio recorde pertencente a Titanic, se firma como um diretor que vale a pena pagar o risco. Gasta muito e arrecada igualmente. Isso é de fato, visto com bons olhos pelos produtores. Mas qual a importância cultural desse longa?

Essa pergunta pode ser respondida de inúmeras formas. Para os entusiastas da sétima arte, Avatar proporciona uma experiência nova na relação homem-tecnologia. Cameron parece ter conseguido dar sentimento aos monstros e todas as formas de "vida" digitais. Temos a sensação, como o plano seqüencia em que Jake Sully - personagem principal, interpretado por Sam Worthington - e Neytiri (Zoe Saldana) correm pelos troncos das árvores, de que tudo aquilo é real. Não sabemos como essa evolução tecnológica influenciará no futuro, mas até os olhos mais distraídos percebem que está diante de algo espetacular.

Por outro lado, Avatar não se sustenta apenas pela revolução digital. O filme possui um interessante e rico roteiro. Cameron conta a história do planeta Pandora, habitado pelos seres Na'vi, criaturas grandes e azuis, que possuem uma cultura ligada a natureza. O planeta se encontra ocupado por um grupo de cientistas e mercenários contratados por uma empresa que está interessada em uma valiosa substância encontrada numa região de domínio dos Na'vi. Cameron, com muita sensibilidade, cria uma relação muito especial entre os habitantes naturais de Pandora e o planeta. Tudo está conectado. Todas os animais, plantas e outras seres constituem um único organismo vivo. Seria um aviso para que nós, seres humanos, olhássemos com outros olhos a Terra? Certamente. E Cameron desenvolve isso sem que soe como um discurso ambientalista de dar sono.

Outra vertente interessante é a metáfora identificada no motivo do homem ocupar Pandora. A história não nos esclarece de fato qual é a importância da substância encontrada no planeta. O que sabemos é que ela é lucrativa e encontrada no subsolo e que se a empresa interessada quiser colocar as mãos nela, não será com diálogo que os Na'vi abrirão mão. O que resta é o plano de sempre quando "as negociações falham": A Porrada. Estamos falando do petróleo? Sim, definitivamente estamos falando do ouro negro e de como grandes potências mundiais agem para consegui-lo.

Os longos anos de produção são realmente válidos, inclusive todo os gastos com o filme. Seria muita pretensão dizer que o valor cultural é tão grandioso quanto o de Metrópolis. Mas Avatar não está longe disso. É um excelente filme e Cameron consegue se superar mais uma vez.

Avatar

Direção: James Cameron
Gênero: Ação/Ficção Científica/Suspense
Origem: Estados Unidos
Duração: 162 minutos
Tipo: Longa-metragem


Classificação do Crítica com Pipoca:

BASTARDOS INGLÓRIOS, Quentin Tarantino

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BASTARDOS INGLÓRIOS, Quentin Tarantino


Deixando sua marca.

Todos sabem que Quentin Tarantino possui traços especiais que identificam suas obras facilmente. Sempre banhado com cenas de violência exagerada - e até cômica -, homenagem direta a seus filmes favoritos e diálogos elaborados. Essa é a fórmula Tarantiana de se filmar. Sua última produção, Bastardos Inglórios, segue essa linha. A única diferença é que ela marca de forma permanente - assim como o personagem de Brad Pitt faz, desenhando com uma faca, a suástica na testa dos futuros "ex-nazistas", para que nunca esqueçam o que foram - o nome de Tarantino na história do cinema.

Todos os personagens e seus conflitos são bem elaborados. Tarantino brinca com as características de cada personagem, relacionando com suas nacionalidades. O inglês educado, gentleman, o americano bruto do interior, o alemão escandaloso, etc. Com uma ótima atuação, Brad Pitt vem se firmando como um bom ator, desmistificando o estereótipo de um rosto bonito. No entanto, ninguém consegue superar Christoph Waltz. Waltz interpreta o coronel nazista Hans Landa. A Obra já valeria, apenas para apreciar essa belíssima atuação.

O filme não passa de uma reconstrução do desfecho da II Guerra Mundial. Tarantino constrói, como de seu gosto, uma história de vingança de uma judia - interpretada pela inexpressiva Mélanie Laurent -, que sobreviveu ao massacre da família, contra o império nazista. O ponto forte é a forma como o diretor brinca com a história real do mundo. É como se contasse na ótica de um judeu, o final perfeito para Hitler e seus comandados. Uma morte dolorosa e sangrenta.

O plano em que três membros dos Bastardos Inglórios - um grupo de americanos que matam nazistas -, disfarçados de oficiais alemães, e Von Hammersmark (Diane Kruger) travam uma luta psicológica contra um alto oficial nazista, tentando manter em segredo a operação para matar Hitler, é fantástica. O clima de tensão transborda em cada palavra do diálogo, o que nos dá a sensação de que a qualquer momento tudo pode acabar em uma troca de balas, no melhor estilo faroeste. Sem dúvida nenhuma, saímos com a sensação de que Bastardos Inglórios apresenta um Tarantino amadurecido e que ainda tem muito a contribuir para a história da sétima arte.


Bastardos Inglórios (Inglourious Basterds)

Direção: Quentin Tarantino

Classificação do Crítica com Pipoca:

AMOR SEM ESCALAS, Jason Reitman

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AMOR SEM ESCALAS, Jason Reitman



Para me conhecer, você deve voar comigo.

Um casal desavisado pode se surpreender ao assistir "Amor sem Escalas". Isso acontece, pois o filme não é simplesmente uma comédia romântica, como o título recebido no Brasil sugere. Como um aviso sutil para os norte americanos - e não norte americanos também -, o longa disserta sobre a situação econômica dos Estados Unidos e como algo tão simples é fundamental para que as pessoas consigam suportar as perdas: A família. Seguindo essa linha, Reitman consegue prender o espectador com um roteiro agradável, que mesmo não sendo espetacular como o seu "Obrigado por Fumar", é uma boa pedida para quem quer assistir um bom filme.

Ryan Bingham, interpretado pelo ótimo George Clooney, trabalha para uma empresa na função de demitir funcionários de forma educada. Bingham busca um discurso motivacional e segue uma série de regras de conduta para que os empregados demitidos reagem o melhor possível ao impacto da notícia. No entanto, sua função exige viagens aéreas constantes a inúmeros pontos dos EUA, impedindo que ele tenha uma vida "normal". Como o próprio personagem diz: "Para me conhecer, você deve voar comigo". Apesar de não ter contado com a família ou ter um relacionamento sólido, Bingham parece gostar de seu way of life, tendo como objetivo principal, alcançar 10 milhões de milhas aéreas, marca que apenas seis pessoas conseguiram na história até o momento.

As coisas começam a mudar quando Natalie (Anna Kendrick) uma jovem contratada pela empresa, propões que as viagens constantes sejam substituídas por videoconferências. Bingham procura convencê-la da importância da demissão ao vivo, trazendo-a para o seu cotidiano: Viajar e demitir. Além disso, Bingham começa a se envolver com Alex (Vera Farmiga), uma mulher com estilo de vida semelhante a dele. É a partir desse gancho que Reitman começa a construir todo o conflito do personagem principal. Bingham começa a questionar a idéia de ser um "lobo solitário" e passa a considerar a hipótese de ficar mais em casa e ter um relacionamento real com Alex.

O filme começa a ser conduzido pelas cenas de demissão. É a partir desse momento que Reitman disseca uma potência mundial fragilizada. Observa-se a grave situação nos planos em que Bingham e Natalie chegam a uma empresa em Kansas e encontram um escritório entregue as moscas, e na empresa de Detroit, onde havia uma lista gigantesca com nomes de funcionários a serem demitidos. Além desse aspecto, o diretor consegue fazer uma ponte reflexiva com a situação das pessoas que perderam seu emprego. Todas elas recebem a notícia de Bingham, que é contratado para estabilizar emocionalmente os empregados. Entretando, não é graças ao talento do personagem que elas conseguem sobreviver ao choque da demissão. Reitman deixa bem claro que elas possuem algo que Bingham não possui: Uma família. É apenas isso que os mantem de pé. E é exatamente essa tirada o ponto forte do filme.

Reitman não decepciona com um final clichê. Por mais que chegamos a acreditar que Bingham mudará sua vida, começando a ter uma relação real com uma companheira e sua família, algo inesperado acontece. Assim, ele evidencia o quanto é difícil para Bingham conseguir agora sua redenção, a partir do momento que o mesmo negligenciou durante toda a sua vida qualquer ligação afetiva. Para ele só resta o objetivo das 10 milhões de milhas aéreas conquistadas e sua vida dentro de uma avião. Para nós, resta um delicioso e indispensável filme.


Eduardo Albuquerque, 30 de janeiro de 2009.

Amor sem Escalas (Up in the Air)
Elenco: George Clooney, Vera Farmiga, Melanie Lynskey, Anna Kendrick, Danny McBride
Direção: Jason Reitman
Gênero: Comédia
Duração: 104 min.
Distribuidora: Paramount Picture

Classificação do Crítica com Pipoca:

SÓ MINHA HORA DEUS SABE, Emanuel Aragão

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SÓ MINHA HORA DEUS SABE, Emanuel Aragão


Obras assim são raras

É fácil se identificar com filmes que tratam de assuntos sensíveis. Assuntos esses tão sensíveis que os filmes são obrigados a se arriscar, beirando o mau gosto. Poucas obras conseguem tratar esses assuntos com a delicadeza necessária. Só Minha Hora Deus sabe, de Emanuel Aragão, é um exemplo desses filmes. Um belo e raro exemplo, que ao longo dos seus quinze minutos, consegue mexer com os sentimentos das pessoas na medida certa.

O curta é um registro de uma família de carroceiros, que vive a base da coleta de lixo para ser reciclado. O local onde habitam é de pobreza extrema e de condições de higiene muito abaixo das mínimas que um ser humano tem direito. E é dessa forma, cercado de lixo, que essa família sobrevive, sendo apresentada ao espectador pela lente da câmera. Mas o filme vai muito além do que apenas gravar o cotidiano dessas pessoas. O material coletado consegue trazer, em seu âmago, inúmeras reflexões. No plano em que a avó, ao ser entrevistada, dizendo não querer morrer, pois precisa de mais tempo para “cuidar dos seus cabloquinhos”, ou no outro plano, em que as duas crianças mais jovens brincam inocentemente de cavalinho, no meio do lixo, evidencia-se uma série de questões. Tanto a fala da avó, que deposita, aparentemente, toda a fé de que seus “cabloquinhos” possam ter um futuro diferente, como as crianças, que observam aquela triste realidade com outros olhos, esses inocentes e esperançosos, nos produzem uma sensação de alegria e esperança. No entanto, ao mesmo tempo, esses planos são capazes de funcionar como um grito de alerta, mostrando a dura vida daquelas pessoas e de seus filhos, fadados a viver em condições semelhantes, fechando um triste ciclo sem fim de desigualdade social. Indispensáveis ao curta, essas duas passagens são capazes de proporcionar uma autocrítica da própria imagem, que conseguem sobreviver por si só.

Esses elementos são os pilares do curta. Soma-se isso a adição da música “O Cravo e a Rosa”, enquanto as crianças brincam, dramatizando ainda mais o plano, como as palavras finais, que explicam que a família vive entre o Palácio do Planalto e a Praça dos Três Poderes, em Brasília, fortalecendo a idéia de que a realidade em que a família vive é distante da nossa realidade economicamente, mas não fisicamente, nos leva a ter certeza de que esse filme, que é considerado um curta, devido a seu tempo de duração, na verdade é um longa, graças a sua grande expectativa de vida. E que seja visto por muitas outras pessoas, pois obras assim, repito, que conseguem tratar de assuntos delicados na medida certa, são raras.

Eduardo Albuquerque, 3 de novembro de 2009.

Fica Técnica:

Só Minha Hora Deus Sabe
Gênero Documentário
Diretor Emanuel Aragão
Ano 2009
Duração 15 min
Cor Colorido
País Brasil

Classificação do Crítica com Pipoca:




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